terça-feira, 1 de abril de 2008

Energia Nuclear


Em abril de 1986, aconteceu o mais grave acidente nuclear da história: explodiu o reator número 4 da usina atômica de Chernobyl, na então União Soviética. Devido ao regime político ditatorial que vigorava no país, as autoridades levaram dias para reconhecer o acidente, o que só fez agravar suas conseqüências, que não se restringiram ao local da explosão: a poeira radioativa espalhou-se por centenas de quilômetros, levadas pelos ventos.

O acidente, devido a um erro dos técnicos que trabalhavam no local, contaminou cerca de 60 mil Km2 de território russo e forçou 340 mil pessoas a abandonarem suas residências. Na ocasião, estima-se que tenham morrido cerca de 5 mil pessoas e a organização ambientalista Greenpeace acredita que o número de vítimas das radiações chegue a cerca de 100 mil nos próximos anos. Os elementos radioativos continuam atuando durante décadas e afetam os seres vivos, provocando, entre outros males, o câncer.

Segundo a OMS - Organização Mundial de Saúde - 7 milhões de pessoas ainda vivem em áreas contaminadas pela radição nos países da região que formava na época a União Soviética: Belarus, Rússia e Ucrânia. Muitas delas ainda não passaram por nenhum tipo de exame médico. Enfim, Chernobyl é um grito de alerta sobre os riscos de utilização da energia nuclear.

Desafio iraniano
Não bastasse isso, porém, o mundo tem ouvido nos últimos dias os gritos desafiadores do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, de que seu país pretende desenvolver usinas nucleares, a despeito da posição contrária dos Estados Unidos e das Organização das Nações Unidas, num caso que pode se transformar em outra guerra no Oriente Médio.

O programa nuclear do Irã, na verdade, desperta dois temores: além de um eventual acidente semelhante ao de Chernobyl (pois a tecnologia é a mesma da antiga União Soviética), a utilização militar da energia atômica ou a transferência dessa tecnologia para organizações terroristas islâmicas. Por outro lado, é verdade que o Irã se vê num momento histórico em que o a energia nuclear - a ser utilizada com fins exclusivamente pacíficos - é fundamental para o desenvolvimento do país.

Apesar de contar com 11% das reservas de petróleo (e de 15% das de gás natural) do mundo, o Irã consome 42% de sua produção petrolífera. O petróleo é uma de suas principais fontes de riquezas no comércio exterior e estima-se que daqui a 15 anos o Irã não vai mais dispor de petróleo para exportação, caso não o substitua por outra fonte de energia.

No Irã e no mundo
Com pequenas variações, o panorama do Irã se assemelha ao do resto do planeta. O fato é que os combustíveis fósseis como o petróleo e o carvão mineral - ou seja, recursos não renováveis, cada vez mais escassos - respondem por 85% da energia consumida mundialmente. É proporcional o nível de desenvolvimento econômico de um país e o seu consumo de energia.

Levando-se isso em conta, bem como o fato de a energia hidrelétrica, solar e eólica não serem suficientes para prover as necessidades globais, fica evidente a necessidade de se investir na energia nuclear que, apesar dos riscos, paradoxalmente pode ser a solução para outro grave problema enfrentado pelo mundo de hoje: as mudanças climáticas. O que uma coisa tem a ver com a outra? Vamos por partes, mas deixando claro de antemão que - como diz o ditado - o diabo não é tão feio quanto pintam.

O aproveitamento de energia nuclear começou a acontecer em fins da década de 1930, para fins militares, mas seu desenvolvimento evoluiu para fins pacíficos após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Atualmente, funcionam no mundo cerca de 440 usinas atômicas. Os Estados Unidos são o país que lidera sua produção, mas os que mais a utilizam são países europeus como a França, a Suécia, a Bélgica e a Finlândia - esta última uma campeã de ambientalismo e proteção ecológica.

Novas constatações
Na verdade, cientistas e ambientalistas, como Patrick Moore e James Lovelock, que há cerca de 30 anos se manifestavam veementemente contra a energia nuclear, demonizando-a, mudaram radicalmente de posição e já declaram abertamente que ela pode salvar o planeta.

Eis alguns dos argumentos que eles apresentam: 10% das emissões globais de gás carbônico (CO2), o principal responsável pelo efeito estufa e as mudanças climáticas, vêm das usinas elétricas movidas a carvão nos Estados Unidos. As usinas atômicas seriam a únida fonte de energia de larga escala e economicamente capaz de reduzir essas emissões.

Custos/benefícios
Num artigo no site de sua empresa, a Greenspirit, Moore, particularmente, mostra que cada preocupação com o uso da energia atômica deve ser considerada separadamente, para acabar com as dúvidas e os mitos que pairam sobre o tema.

Sobre o fato de a energia nuclear ser eventualmente cara, ele contra-argumenta, lembrando que o custo médio da produção desse tipo de energia foi de dois centavos de dólar por quilowatt-hora. Isso se compara aos custos da energia a carvão e hidrelétrica, sem falar em que os avanços tecnológicos devem reduzir esses custos.

Quanto à insegurança das usinas nucleares, o ambientalista lembra que Chernobyl foi um acidente previsível, a crônica de uma morte anunciada: o modelo primitivo de reator soviético não tinha vaso de contenção, seu projeto era ruim e o acidente se deu por falha humana.

Ao contrário, na usina de Three Mile Island, na Pensilvânia, Estados Unidos, o derretimento de um núcleo do reator se converteu numa história de sucesso, pois sua estrutura protetora de concreto fez exatamente o que dela se esperava: impediu que a radiação escapasse para o ambiente. Não houve mortos nem feridos.

Lixo nuclear e terroristas
Sobre o fato de o lixo nuclear ser perigoso por milhares de anos, Moore argumenta: "em 40 anos, o combustível usado tem menos de um milésimo da radioatividade que tinha quando tirado do reator". Além disso, o cientista julga incorreto chamá-lo de lixo, uma vez que ele pode ser reciclado e reaproveitado durante muito tempo.

Restam as questões político-militares: reatores atômicos podem ser alvos de ataques terroristas. No entanto, a estrutura protetora com 1,80m de concreto de espessura não só protege os conteúdos de dentro para fora, mas de fora para dentro. "Mesmo que um avião Jumbo se chocasse com a usina e rompesse o invólucro, o reator não explodiria", afirma ele.

Um argumento cortante
Finalmente, o combustível nuclear pode ser desviado para a fabricação de armas nucleares. Patrick Moore concorda que esse é o pronblema mais sério e difícil de resolver, aludindo exatamente à questão do Irã. Porém, ele lembra que esse argumento não se limita à tecnologia atômica e cita um dado impressionante: "Nos últimos 20 anos, uma das ferramentas mais simples - o facão - foi usada para matar mais de 1 milhão de pessoas na África, muito mais do que os mortos nos bombardeiros nucleares de Hiroshima e Nagasaki juntos".

Para encerrar, é muito importante enfatizar que essas declarações vêm de um cientista que se opôs radicalmente à energia atômica e que não deixou de militar a favor das causas ecológicas: Patrick Moore, PhD em ecologia, pela Universidade de Colúmbia, e presidente da Greenspirit, que é atualmente uma das mais importantes consultorias de política ambiental do mundo.

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