domingo, 8 de novembro de 2009

Muro de Berlim - 20 anos depois



Queda do muro foi ato final da Guerra Fria



O portão de Brandenburgo, na linha divisória entre as duas Alemanhas, foi tomado pela população
Há 20 anos, a queda do Muro de Berlim (1961-1989) abriu caminho para a reunificação da Alemanha, acelerou o fim dos regimes comunistas no Leste Europeu, colocou um ponto final na Guerra Fria (1945-1989) e foi um dos fatores que contribuíram para o surgimento do mundo globalizado.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Durante 28 anos, o muro foi o maior símbolo da divisão do planeta em dois blocos, o capitalista e o socialista. A disputa entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) envolveu quase todo o mundo em guerras, golpes de Estado, corrida armamentista e ameaças de conflito nuclear.

Por fim, o colapso dos regimes comunistas abriu espaço para reformas e protestos populares. O ápice desse processo foi a derrubada do Muro de Berlim na noite de 9 de novembro de 1989. Os próprios berlinenses ajudaram a demolir a construção, que representava a opressão dos governos totalitários do século 20.

Cortina de Ferro
Tudo começou no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Alemanha foi dividida em duas zonas políticas, econômicas e ideológicas distintas. Em 1949, as áreas controladas pelos Aliados (Estados Unidos, França e Reino Unido) formaram a República Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental. No outro lado, sob domínio da URSS, foi instaurada a República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental. A capital, Berlim, também foi separada em Ocidental e Oriental.

Mas enquanto a Alemanha Ocidental progredia com a economia capitalista, o regime estatal da RDA dependia de empréstimos da vizinha para subsidiar serviços públicos e manter o setor industrial. Para os alemães orientais, a escassez de produtos básicos era tão comum quanto a falta de liberdades políticas e individuais. Por isso, eles fugiam para o lado ocidental, em busca de melhores oportunidades.

O muro surgiu em 13 de agosto de 1961, por determinação do líder soviético Nikita Kruschev (1953-1964), como uma solução para as constantes escapadas de alemães, fato que ameaçava desestabilizar a RDA. Em média, mil refugiados por dia atravessavam a fronteira, que de início era composta apenas por fios de arames farpados e sem vigilância armada.

Com o fechamento das fronteiras, a Alemanha Oriental, com seus 17 milhões de habitantes, virou uma verdadeira prisão. O muro tinha 3,60 metros de altura e 155 quilômetros de extensão. Guardas de fronteiras armados e com cães patrulhavam a edificação. Havia 302 torres de vigília, minas, fosso e casamatas com metralhadoras para impedir a aproximação de eventuais "turistas".

Os guardas tinham ordens para atirar e matar qualquer pessoa que se arriscasse a romper a barreira. Pelo menos 192 foram mortos ao tentar pular o muro. Mil morreram na tentativa de atravessar outros pontos da fronteira. O muro também cortou redes de transportes, comunicação e esgotos. Famílias inteiras ficaram separadas por 28 anos, sem terem o direito a viajar para se reencontrarem.

Para os comunistas, o projeto funcionou bem: enquanto 2,5 milhões de alemães orientais fugiram de 1949 a 1962, apenas 5 mil deixaram o país entre 1962 e 1989. Isolados no bloco oriental, os alemães eram vigiados pela polícia secreta, a Stasi, que coagia e subornava as pessoas para delatarem parentes e amigos acusados de subversão (como mostra o filme A vida dos outros, indicado abaixo). Para os europeus que cresceram à sombra do Muro de Berlim, não havia esperanças de que a situação mudasse.

Gorbatchev
A ruína da economia e o consequente desgaste político do império socialista, no entanto, mudaram o cenário no final dos anos 1980. Nesse contexto, dois fatores foram preponderantes para a queda do muro: a ascensão do líder soviético Mikhail Gorbatchev (1985-1991), em 1985, e as reformas políticas na Hungria e na Polônia.

Quando chegou ao poder, Gorbatchev viu que o regime não tinha mais condições de arcar com os altos custos da Guerra Fria. Os gastos militares consumiam as riquezas do país, cujas indústrias estavam tecnologicamente defasadas, e os bens de consumo eram inacessíveis à maior parte do povo.

A única saída era a abertura, que ficou conhecida por dois nomes: a glasnost (transparência), de âmbito político, e a perestroika (reestruturação), na esfera econômica. O conjunto de medidas levaria, em 1991, à dissolução da URSS.

Gorbatchev também se aproximou de líderes da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Entretanto, mais importante que a diplomacia externa foi a postura em relação aos países que viviam sob influência política e militar de Moscou. Eles teriam, dali por diante, que escolher as próprias trilhas para sair do labirinto a que o socialismo os conduzira.

A posição do Kremlim foi decisiva para as mudanças, uma vez que todas as revoltas anteriores contra os Estados comunistas - Berlim (1953), Budapeste (1956), Praga (1968) e Varsóvia (1981) - foram esmagadas com ajuda das tropas soviéticas. Com o Exército Vermelho fora do jogo, a história seria diferente.

Eleições
O primeiro movimento em direção à abertura aconteceu na Polônia. Naquele final dos anos 1980 o país estava em crise, com inflação crescente e um terço da população vivendo na pobreza.

Para o governo, a saída encontrada foi negociar com o partido de oposição, o Solidariedade, que depois de sete anos na ilegalidade seria autorizado a participar de eleições parlamentares.

O fundador do Solidariedade, Lech Walesa, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1983, tinha apoio e financiamento dos Estados Unidos e da Igreja Católica. Ele assinou um acordo com seu antigo algoz, o líder comunista Wojciech Jaruzelski, para viabilizar as eleições históricas de 6 de fevereiro de 1988, o primeiro pleito eleitoral livre no Leste Europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

O resultado das urnas foi claro: os poloneses repudiavam os comunistas. Além disso, o pleito foi considerado limpo e a vitória da oposição foi aceita pelo Partido Comunista. Isso possibilitou a formação do primeiro governo não comunista na Europa Oriental pós-guerra.

A Polônia provara para aos europeus que era possível derrubar ditaduras por vias democráticas, inclusive negociando com o inimigo.

Piquenique
Mas na Hungria, que passava por situação econômica e política semelhante à Polônia, os abalos seriam causados por forças internas. Partiu do próprio governo, mais especificamente do primeiro-ministro Miklós Németh (1988-1990) e seus aliados, a proposta de desmantelar o sistema comunista abrindo as fronteiras.

No dia 2 de maio de 1989, o governo húngaro anunciou que, por motivos financeiros, não poderia mais manter a cerca eletrificada em sua fronteira com a Áustria. Foi o primeiro "buraco" aberto na Cortina de Ferro, pelo qual os alemães orientais poderiam escapar. Mesmo assim, não ocorreu a fuga em massa esperada.

Os húngaros fizeram então uma nova tentativa com a promoção de um piquenique pan-europeu, na fronteira com a Áustria, em 19 de agosto do mesmo ano. Mais de 600 refugiados atravessaram as barreiras levantadas, no período de três horas em que ocorreu o evento. Políticos húngaros cortavam pedaços da cerca de arame farpado e distribuíam como souvenirs.

Na última manobra, em 10 de setembro, a Hungria anunciou que as fronteiras seriam totalmente abertas. Assim, os alemães puderam fugir pela Hungria e, via Áustria, chegar até a Alemanha Ocidental. Foi o início da fuga em massa de alemães da RDA. Milhares debandaram para rever parentes, fazer compras, buscar empregos melhores ou simplesmente viajar ao exterior, coisa que até então eram proibidos de fazer.

Revolta popular
O abandono diário de milhares de cidadãos da Alemanha Oriental (25 mil num único final de semana) ameaçou o funcionamento de serviços básicos e acabou gerando uma crise no país. Os comunistas contra-atacaram bloqueando a passagem na fronteira com a antiga Tchecoslováquia. Parte dos alemães buscou refúgio na embaixada da República Federal da Alemanha em Praga, capital tcheca.

No final de setembro, o governo de Erich Honecker (1971-1989) adotou uma segunda decisão equivocada. Ele transferiu, de trem, os refugiados da embaixada para a Alemanha Ocidental, passando por dentro da RDA. Os demais alemães orientais, revoltados com o fechamento da rota de fuga pela Hungria, amontoaram-se nas estações e foram reprimidos com violência pelas forças policiais.

Os protestos cresceram por todo país e levaram, em outubro, à renúncia de Honecker, pressionado pelos membros do Partido Comunista.

Egon Krenz, o segundo homem no partido, assumiu o poder e decidiu conceder passes livres para todos alemães da RDA que quisessem viajar ao exterior. O plano era liberar os passaportes a partir de 10 de novembro. Porém, o porta-voz do governo, Günter Schabowski, em pronunciamento na TV no final da tarde do dia 9, disse por engano que as novas regras valeriam "de imediato".

Foi o suficiente para milhares de berlinenses correrem para o muro e exigirem a abertura dos portões. Então, por volta das 23h, guardas desorientados e sem ordens do alto escalão sobre como controlar o caos cederam à pressão dos manifestantes. O povo alemão comemorou, então, a vitória depois de 40 anos de bloqueio.

Desse modo, foi derrubada a primeira peça do dominó socialista da Europa Oriental, que mudaria por completo o traçado geopolítico do mundo.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Impacto do metano no clima é maior do que se pensava, segundo estudo



Efeitos seriam 30% maiores do que se pensava até agora.
Estimativas não levaram em conta a interação com os aerossóis.



O efeito do gás metano no processo do aquecimento global foi subestimado, segundo um estudo realizado por cientistas americanos que sugere que os modelos e os controles atuais das emissões deveriam ser revisados.


O professor Drew Shindell, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa (agência espacial americana), dirigiu o estudo, cuja conclusão principal é que o impacto do metano na temperatura global é 30% maior do que se pensava até o momento.

O problema, segundo Shindell, é que as estimativas feitas até agora não levaram em conta a interação do metano com os aerossóis.

Quando este efeito indireto é incluído, uma tonelada de metano multiplica por 33 - e não por 25 como se pensava - o efeito do aquecimento da atmosfera que tem uma tonelada de dióxido de carbono (CO2), em um período de 100 anos.

Em declarações ao jornal britânico "The Times", o cientista ressaltou a importância de adotar medidas que permitam frear as emissões de metano, procedentes principalmente da pecuária, do cultivo de arroz e das explorações de carvão e de gás natural.




Para as mudanças do clima a longo prazo, é impossível prever os efeitos do CO2""

Calcula-se que o metano é o segundo gás que agrava o efeito estufa com maior impacto no aquecimento global, atrás do CO2, e responsável por um quinto do aumento das temperaturas.

A vantagem sobre as emissões de CO2 é que o metano se decompõe muito mais facilmente, por isso o efeito das medidas para combatê-lo seria notado com maior rapidez.

Shindell ressaltou que este tema deve ter uma grande importância na cúpula das Nações Unidas sobre o clima, que será realizada em Copenhague em dezembro.

"Para as mudanças do clima a longo prazo, é impossível prever os efeitos do CO2. É o problema principal e dura centenas de anos, mas se tivéssemos um esforço voltado a fazer frente a outros gases poderíamos ter um impacto muito grande a curto prazo", disse o cientista da Nasa, ao "The Times".

Shindell teve sua pesquisa publicada na revista "Science", em um artigo no qual também sugere a possibilidade de que as previsões sobre os efeitos da mudança climática sejam otimistas demais.

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, publicado em 2007, estima que a temperatura do planeta aumentará entre 1,1 e 6,4 graus Celsius neste século.

Crescimento desorganizado afeta paraíso de Darwin




Em Galápagos, espécies observadas por cientistas correm perigo.
Introdução de espécies como ratose gado ameaça os animais nativos.



Os montes de lixo malcheirosos na fronteira desse frágil arquipélago, a 965 km da costa Pacífica do Equador, cuja vida selvagem única inspirou a teoria da evolução de Darwin, são uma prova viva de que uma espécie está prosperando: o homem.



Pequenos pintassilgos cinza, descendentes dos pássaros que foram cruciais para a sua teoria, sobrevoam o aterro, que serve a uma cidade em desenvolvimento de equatorianos que se mudaram para a ilha para trabalhar na indústria do turismo local, cada vez maior.



O crescimento da população nas Galápagos, que duplicou para cerca de 30 mil na última década, tem deixado os ambientalistas horrorizados. Eles apontam evidências de que o desenvolvimento já está prejudicando o ecossistema, que fez com que os habitantes mais famosos da ilha – entre eles tartarugas gigantes e atobás de pés coloridos – evoluíssem em isolamento, antes da colonização das ilhas, há mais de um século.


Foto: Ruth Fremson/The New York Times
Em dez anos, população de Galápagos duplicou para cerca de 30 mil pessoas. (Foto: Ruth Fremson/The New York Times)


O crescimento já está ameaçando tanto o meio ambiente que até mesmo o governo, que ainda estimula o crescimento do turismo, começou a tomar decisões políticas não-populares, como expulsar centenas de equatorianos pobres da província, da qual eles se consideram legalmente proprietários.

Oriente Médio



Outubro sangrento coloca em xeque guerras dos Estados Unidos


Tropa americana patrulha vila no Afeganistão em 19 de outubro de 2009
O mês de outubro de 2009 foi o mais violento no Iraque e no Afeganistão, palcos da "guerra contra o terror" promovida pelos Estados Unidos há quase dez anos. As mortes de iraquianos e americanos desestabilizam tanto os processos de transição política quanto a estratégia da Casa Branca de realocar recursos de uma guerra para outra. Direto ao ponto: Ficha-resumo)

O caso mais grave aconteceu na capital do Iraque. Um duplo atentado terrorista matou 155 pessoas, incluindo 24 crianças, e deixou centenas de feridos na explosão de carros-bomba em prédios do governo em Bagdá. Foi o pior ataque em dois anos.

As explosões, ocorridas no último domingo (25 de outubro), teriam como objetivo emperrar discussões sobre a reforma eleitoral, que vai regular as eleições marcadas para janeiro. Os atentados também aumentaram a tensão com os países vizinhos, principalmente a Síria, acusada pelo governo iraquiano de abrigar terroristas.

No dia seguinte, 14 americanos morreram na queda de helicópteros no Afeganistão. Na terça-feira (27), foram registradas mais oito baixas em confrontos, subindo para 55 o número de mortes no mês.

Os incidentes aconteceram a poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para 7 de novembro. O pleito será disputado entre o atual presidente, Hamid Karzai, e o ex-ministro de Relações Exteriores, Abdullah Abdullah. No primeiro turno, houve denúncias de fraudes.

As eleições no Iraque e no Afeganistão visam trazer estabilidade política aos países, ponto considerado fundamental para que os Estados Unidos encerrem as ocupações. Mas os ataques terroristas no Iraque e o crescimento do índice de soldados mortos no Afeganistão (num ano já considerado o mais mortífero desde o início da guerra) complicam ainda mais a situação no Oriente Médio.

A violência também afetou a estratégia do presidente Barack Obama de transferência dos recursos do Iraque para o Afeganistão. Nas próximas semanas, Obama deve decidir se aumenta o efetivo em mais de 40 mil soldados no território afegão. Porém, ele enfrenta oposição de quase metade da população americana e de setores do próprio governo, que duvidam que o reforço militar irá contribuir para trazer mais segurança ao país mulçumano.

Petróleo
Juntas, as guerras do Iraque e Afeganistão já mataram mais de 5 mil americanos e somam, segundo relatório do Congresso dos Estados Unidos, US$ 864 bilhões de gastos aos cofres públicos (74% deste total no Iraque, 22% no Afeganistão e os 4% restantes em gastos diversos). Especialistas estimam que as despesas irão ultrapassar US$ 1 trilhão, em plena época de recessão econômica.

Passados nove anos de guerra no Afeganistão e sete no Iraque, a impressão hoje é a de que os Estados Unidos subestimaram a resistência dos radicais mulçumanos e se meteram em outro atoleiro. Os dois conflitos já são mais longos que a participação dos americanos na Primeira (dois anos e dois meses) e Segunda Guerra Mundial (três anos e oito meses) e na Guerra da Coreia (três anos e um mês). E, por enquanto, somente inferior à participação na Guerra do Vietnã (doze anos).

As batalhas foram iniciadas no governo de George W. Bush (2001-2009), na sequência dos atentados de 11 de Setembro. A campanha militar no Afeganistão começou em 7 de outubro de 2001, com o objetivo de capturar Osama Bin Laden, líder da rede terrorista Al Qaeda. No caso do Iraque, a invasão em 19 de março de 2003 foi justificada pela suposta posse de armas de destruição em massa pelo governo de Saddan Hussein, que nunca foram encontradas.

De modo geral, a administração Bush alegava que as incursões militares tinham a intenção de democratizar os países, que viviam sob ditaduras, e combater os grupos terroristas. Especialistas, por outro lado, apontam interesses econômicos em reservas de petróleo e derivados como a principal razão por trás da "guerra contra o terror".

Mas por que essas guerras duram tanto tempo e por que é tão difícil encontrar uma saída para os conflitos?

Taleban
Tanto o Afeganistão quanto o Iraque são países divididos por grupos étnicos e religiosos que viveram séculos sob ocupação estrangeira e nunca conheceram a democracia ocidental ou uma paz duradoura. São também terras ricas em minérios e que ocupam posições estratégicas na geopolítica do Oriente Médio, o que desperta a cobiça de grandes potências mundiais.

Localizado na Ásia central, o Afeganistão faz fronteira com Paquistão, Irã e China. O país possui 32,7 milhões de habitantes, 70% vivendo em condição de pobreza. O que une os diferentes grupos étnicos é a religião mulçumana (80% sunita e o restante xiita).

A maior renda vem do ópio (matéria-prima da heroína), pois o Afeganistão concentra 93% da produção mundial dessa substância, que corresponde a 30% do Produto Interno Bruto (PIB), além de ser a principal fonte de financiamento do Taleban.

Durante a Guerra Fria, o país permaneceu vinte anos sob ocupação da ex-URSS (1979-1989). Neste período, os mujahedin (combatentes islâmicos) receberam apoio da CIA, o serviço secreto americano, para lutar contra as tropas russas.

Quando, finalmente, o Exército Vermelho deixou Cabul, a capital, estourou uma guerra civil entre facções rivais. As lutas só terminaram após o Taleban, grupo nacionalista mulçumano de etnia pashtu, tomar o poder em 1996. Hoje, estima-se que os extremistas ainda controlem até 70% das terras afegãs.

Saddam
Já o Iraque possui uma das culturas mais antigas do mundo, que remonta há 10 mil anos. O território abrigou as primeiras civilizações humanas, que criaram o alfabeto cuneiforme e o primeiro código de leis, a Lei do Talião ("olho por olho, dente por dente").

Diferente do Afeganistão, a maior parte dos 31,2 milhões de habitantes são mulçumanos xiitas (60%), embora os sunitas tenham governado o país ao longo da história.

O Iraque ficou quase quatro séculos sob domínio do Império Otomano (1533-1918), até que a região foi dividida ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o país se tornou colônia do Reino Unido. O período monárquico durou de 1921 a 1958, quando a família real foi assassinada, depois de um golpe de Estado.

Em julho de 1968, um novo golpe, conduzido pelo Partido Socialista Árabe Baath, levou ao poder o líder sunita Saddam Hussein, primeiro como vice-presidente e, a partir de 1979, como presidente. Os 24 anos de regime de Saddam foram marcados pelo culto à personalidade, perseguição a etnias (curdos e xiitas) e massacres, incluindo três guerras no Golfo Pérsico.

A primeira Guerra do Golfo foi travada contra o Irã (1980 a 1988) depois que a Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khoemini (1900-1989), depôs a monarquia iraniana, alinhada ao Ocidente. O ditador iraquiano tinha então apoio financeiro de Washington.

Endividado ao final dos conflitos, Saddan invadiu o Kuwait em 1990, país vizinho credor e rico em petróleo. Uma coalizão militar internacional, tendo à frente os Estados Unidos, expulsou o exército iraquiano do Kuwait. Seguiu-se um período de sanções econômicas até a terceira guerra no Golfo, em 2003, contra os americanos.

Retirada
Para os Estados Unidos, o maior triunfo das atuais guerras foi a captura de Saddan Hussein, em dezembro de 2003. O ditador estava escondido em um buraco após ter escapado do cerco à capital. Ele foi julgado, condenado à morte e enforcado em 31 de dezembro de 2006.

No entanto, a justificativa fraudulenta para a invasão do Iraque e o escândalo de abusos contra detentos na prisão iraquiana de Abu Ghraib mancharam a imagem dos EUA perante o mundo.

Com o Iraque ocupado e alvo de sucessivos ataques terroristas, realizaram-se em 2005 as primeiras eleições presidenciais e parlamentares. Neste ano, Obama anunciou a desocupação total até o final de 2011 e, em junho, o exército americano deixou as ruas, que passaram a ser patrulhadas por forças iraquianas.

Para Cabul, prioridade atual do governo americano, o plano também é garantir que o governo local tenha condições de manter o controle após a retirada das tropas. O problema, tanto no Iraque quanto no Afeganistão, é que os americanos não são vistos como "salvadores da pátria" por libertarem os países das ditaduras de Saddan e do Taleban, mas como invasores.

Quase uma década depois, os Estados Unidos não conseguiram pacificar o Iraque nem capturar Osama Bin Laden. Nem é certo que os países invadidos não mergulhem novamente em guerras civis e étnicas após os americanos deixarem o front, nem que a Al Qaeda, um grupo que age internacionalmente, não volte a atacar. Em todos os cenários mais realistas, serão guerras perdidas para o Tio Sam.