terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Enem e a Universidade Federal do Ceará


Em meio a opiniões divergentes dos que acham que já protelou demais e outros que ela está sendo precipitada, a Universidade Federal do Ceará (UFC) marcou para o dia 26 de fevereiro sua tomada de decisão sobre a adesão ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O atual vestibular encontra poucos defensores, e todos acham que alguma coisa precisa ser feita, mas poucos têm ideias sobre o que fazer. O MEC teve: reformulou seu exame que antes tinha a finalidade de avaliar a qualidade das escolas e o adaptou para medir desempenhos individuais.

O principal objetivo do MEC com a adoção do Enem como forma de acesso ao sistema federal de ensino superior é forçar a reformulação do ensino médio. O Brasil se dá muito mal em avaliações comparativas internacionais ocupando invariavelmente as últimas colocações seja em ciências, matemática ou linguagens. E antes que assumam que estamos falando do ensino público, o Brasil se daria igualmente mal caso a amostra se restringisse aos oriundos das escolas privadas. É o paradigma que prioriza a informação sobre a formação que precisa ser modificado. Nosso estudante lê, mas não interpreta; faz contas, mas não resolve problemas. A preparação para o vestibular se dá através de treinamento com manual de instruções. Educar não é isso. O Enem mede habilidades e competências o que implica que ler, interpretar, contextualizar e raciocinar contam mais do que a lembrança de informações. Neste sentido, o Enem representa um avanço.

Ainda mais complexo, é decidir de que forma adotar o Enem: parcialmente ou como exame único. O exame único traz a vantagem, e também o risco, da universidade participar do Sistema de Seleção Unificada, isto significa que os alunos do Ceará vão poder ocupar vagas em qualquer universidade que adira ao Enem. Em compensação, as vagas da Universidade Federal do Ceará poderão ser ocupadas por alunos de outros estados. Há o receio de que o sistema nacional contribua para formação de ilhas de excelência em torno dos grandes centros, e o Ceará se torne um grande exportador de cérebros.

Mas ainda mais preocupante é o inverso: as vagas de nossas universidades serem ocupadas por alunos oriundos de outros estados. Vejam o que aconteceu com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) que participou do sistema em sua primeira edição. Todas as vagas do curso de Medicina foram ocupadas por alunos de outros estados. Para sorte do Amazonas, a Ufam ofertara apenas 50% das vagas para o Enem, deixando a outra metade para o vestibular próprio.

Com estas preocupações em mente, consideramos que reservar apenas parte das vagas para o Enem seria o mais prudente. Isto permite à universidade monitorar os alunos oriundos dos dois sistemas (Enem e Vestibular) quanto a desempenho acadêmico e taxa de evasão, e, dentro de alguns anos, angariar elementos para saber se participar do exame nacional terá sido benéfico.

MARCELINO PEQUENO
Professor do Departamento de Computação da UFC e 1º Secretário da Associação dos Docentes da UFC

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